sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Aquelas Janelas...


Há um prédio na Av. Paulista, altura do número 960 com o dom de transportar adentro.
Deveria ser parada obrigatória dos veículos que passeiam sobre a  capital financeira, brasileira. As janelas entreabertas, às vezes escancaradas, despertam a imaginação de quem as admiram, a suposição do que se passa por lá.

Ora se avista uma meia luz, de abajur, de computador, de televisão; ora luz completa, de chegada, de organização. Uma janela deixa sedutoramente aparecerem as plantas, verdes, vivas; outras, quadros, objetos pendurados e poucas cortinas.
O pensamento vagueia, construindo uma ideia de pessoas sentadas acompanhadas dos bichos de estimação, do livro favorito, da palavra cruzada, do prato de refeição, de trabalho, relatório, tese de mestrado, de lazer, de festa, reunião, com um chopp na mão, soltando risadas, fazendo sorrir. Talvez, com pipoca na mão, assistindo aquele filme bom. Sentado, em pé, abraçado, abraçando.

Quantas histórias deve haver por trás daquelas janelas? Tudo parece calmo, feliz, cheio de vida rara. Contas sobre a mesa, chaves jogadas ao cesto de entrada e um suspiro de alívio, de final de dia, de trabalho cumprido, de reencontro.
Não parece somente um prédio, mas Hogar Dulce Hogar! De abraços saudosos, sorrisos sinceros e miado terno.

Do lado de fora, o contraste, luzes dos automóveis, dos faróis, da música tocando alto, o rapaz dos pés dançantes, flauteando, “violinando”, arrecadando miúdas moedas. Risadas altas, constantes, xingamentos, grosseria, bolsas atrapalhando a passagem, sem pedidos de licença, sem educação, aglutinação e tumulto, alguém caído no chão.
Cabelos verdes, azuis, arrepiados, engraçados, calças pra lá, calças pra cá, quase compondo um arco-íris.

O farol abre e subitamente se é arrancado, jogado violentamente para fora, um campo fatídico em que tudo toma o curso habitual. Nada prateado, cinza mesmo, de casa bagunçada, suja, de cinzas de cigarro no ralo do banheiro, com toda a louça na pia, roupa suja no cesto há dias, sem pegadas de animal doméstico, sem planta feliz, com mania alheia. A vida volta assim, desinteressante, desajustada, estagnada, adaptada.
Fica a saudade de um caminhar para frente, adiante. Fica a saudade de algo que ainda não aconteceu.

Ficam as perguntas:
Qual é a direção? Onde está o sonho? A inspiração? A pulsão? A emoção? Onde foi que tudo se perdeu? O que foi perdido? O que ficou para trás?

A vida cobra movimentação, senão ela vai subtraindo o tempo, gastando o encantamento.
Não vai adiantar gritar, certamente, ela balança o ombro, não presta atenção.

Quando o farol da vida abrir ninguém conseguirá fugir.

Longe dos pensamentos conclui-se


ficou escondido na gaveta do criado mudo....


Longe nos pensamentos, não sem querer e não por acaso, contudo para a surpresa vem à mente... Fechou-se mais um ciclo, inesperado e o mais novo amigo Toinho nem vai mais precisar convencer de nada já está feito. Em meio aos diversos textos, as ideias que vem sendo desenvolvidas e aprimoradas, conclui-se:
Sem balelas! Cansa tudo que não faz avançar. Movimento. Ar e sem contentamentos pequenos. Querer o que causa frisson, o que leva além, o que desconstrói conceitos formados, na ideia de redefinições melhores, o que faz agir diferente, o que liberta, o que eleva, sendo assim, na busca incessante do novo, do intenso, contudo, do concreto. Sem fechar os olhos só na ideia dos teus, a vida e mais...

Não abandone, mude o foco
Não decline, desvie
Não discuta, contorne
...
Fim da fantasia a esmo, já não interessa se há ou não uma frustração meta inibida, já não era sem tempo, o que foi, foi e o que não foi não será, não dá pra viajar longe demais onde não se possa voltar, onde não se pode chegar. Viver de ilusões, de migalhas de sentimentos nem mesmo na literatura, tão pouco os loucos vivem assim.

Queira o que é teu feliz assim, e continue nas traçadas, o universo faz o resto.
A metamorfose é uma dádiva que devemos lançar mão sempre que a mudança se faz necessária, é parte de um progresso e evolução. É necessário às vezes ouvir ou ter um insight, tipo: ACORDA! Nem tudo deve permanecer, nem tudo se realiza. Não são sensacionais as possibilidades infinitas e as flexibilidades da vida? Enfim, faça melhor, emane muita luz, amor e esqueça, assim, em como um passe de mágica. Que nada nos impeça de guardar na caixa das lembranças as conversas boas, os sentimentos tensos, as indicações musicais, os versos e poemas, os sentimentos de amizade, os sentimentos inibidos ou não e tudo que representou aqui dentro, mesmo sem saber.

Faça como Caio Fernando Abreu sugere:
"...Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia - qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo..."

(...) Tô me aproximando de tudo que me faz completo (...)

Se apaixone pela liberdade, pelas flores, musicas e amores torne tudo explícito, vivo, partilhe o sentimento para que se torne real.
Deh Christina/ julho.2011